quinta-feira, 24 de abril de 2014

OPÇÕES DOS EUA À AÇÃO AFIRMATIVA

1) Os 10% de melhor desempenho

Os 10% de alunos com melhores notas de cada escola do ensino médio têm acesso assegurado à universidade. Programa começou no Texas e foi adotado por instituições na Flórida e na Califórnia


2) Primeira Geração
Oferece incentivos, como bolsas de estudo, a alunos cujos pais não têm curso superior. A iniciativa mais conhecida está na Flórida


3) 20 Talentosos
Também na Flórida, prevê para os 20% dos alunos do ensino público com melhores notas acesso às universidades públicas estaduais


4) Fatores socioeconômicos
Algumas universidades usam como critério de admissão histórico familiar, situação socioeconômica, região de origem, status de refugiado e deficiências físicas, entre outras. As vagas reservadas variam em cada instituição. Folha, 24.04.2014.

EUA debatem modelo de acesso universitário: Universidades discutem substituir políticas de ação afirmativa baseadas em raça por critérios socioeconômicos

Decisão da Suprema Corte deve dar impulso à busca por novos modelos de seleção de candidatos a instituições superiores
FABIANO MAISONNAVEDE SÃO PAULO
A decisão da Suprema Corte dos EUA de manter o veto do critério racial para ingresso nas universidades do Estado do Michigan tende a acelerar a adoção de políticas alternativas de ação afirmativa já implantadas em algumas universidades, como a que privilegia alunos cujos pais não têm curso superior.
"As ações afirmativas baseadas em raça nos EUA são legal e politicamente vulneráveis", disse à Folha Halley Potter, do centro de estudos Century Foundation, sediado em Washington.
"Legalmente, as políticas públicas são submetidas ao mais restritivo padrão de revisão legal, o escrutínio estrito'. Politicamente, as preferências raciais são muitas vezes impopulares na opinião pública e entre os representantes eleitos", completou.
Potter é coautora do estudo "A Better Affirmative Action" (uma melhor ação afirmativa), que demonstra que sete de dez importantes universidades públicas conseguiram manter e até aumentar proporção de alunos negros e latinos depois da substituição de critérios raciais por outros socioeconômicos.
Um levantamento semelhante publicado ontem pelo jornal "New York Times" traz resultados diferentes: de cinco Estados que baniram o critério racial, em quatro houve queda percentual de alunos negros e latinos.
Em Michigan, onde o fim do critério racial foi aprovado por 58% dos eleitores em referendo em 2006 --decisão mantida pela Suprema Corte anteontem--, o percentual de novos alunos negros caiu 25% nas universidades e faculdades públicas estaduais, apesar da adoção de novos critérios socioeconômicos.
Desde 1996 até hoje, oito Estados aboliram o fator racial na admissão de universidades, entre os quais a Califórnia e a Flórida. Juntos, reúnem 29% dos estudantes de ensino médio do país.
Nos EUA, os programas de ação afirmativa universitários baseados em raça começaram há quase meio século. Nesse período, houve mudanças importantes, como a proibição de cotas raciais pela Suprema Corte, em 1978.
EDUCAÇÃO FAMILIAR
Uma das experiências que mais têm chamado a atenção são os programas Primeira Geração, em que o estudante cujos pais não possuem curso superior tem a acesso a uma série de incentivos.
"Os programas mais eficientes de primeira geração combinam recrutamento com apoio financeiro", diz Potter.
"A Universidade da Flórida, por exemplo, tem um programa impressionante para incluir alunos de primeira geração e baixa renda, oferecendo bolsas integrais. Esse programa tem ajudado a universidade a ter um corpo discente com um diversidade racial e socioeconômica."
O Estado da Flórida, onde o critério racial foi banido em 2001, vem tendo resultados melhores do que a média.
De acordo com o levantamento do "Times", as duas universidades mais importantes do Estado mantêm o mesmo número de universitários hispânicos desde que o critério racial foi abolido.
No Texas, onde o fator racial foi abandonado há mais tempo, a principal alternativa é o programa "Os 10% de Melhor Desempenho", no qual os alunos com as notas mais altas de todas as escolas de ensino médio do Esado têm vaga assegurada na universidade.
Apesar de a experiência ter sido copiada por outros Estados, o número de universitários negros e latinos no Texas vem caindo desde então, ainda de acordo com o "Times".
Em 2005, a Universidade do Texas voltou a levar o fator racial em consideração. Folha, 24.04.2014.


terça-feira, 8 de abril de 2014

A escola daqui a 10 anos: Se o mundo fosse igual daqui a 10 anos, aí faria sentido o nosso esforço para a escola continuar da mesma maneira

ROSELY SAYÃO
E se daqui a 10 anos a vida fosse muito parecida com a que vivemos hoje?
Se, por exemplo, o mercado de trabalho funcionasse como o conhecemos: com a oferta de empregos em empresas que teriam carga horária semanal predeterminada e horários de entrada e saída idem --com alguma flexibilidade-- e com a possibilidade de horas extras de trabalho para os funcionários darem conta das tarefas exigidas?
Se, nessas empresas, os trabalhos exigissem uma formação acadêmica específica e as tarefas em equipe fossem realizadas como têm sido frequentemente hoje, ou seja, com um chefe --ou líder, como gostam de nomear as corporações que se pretendem inovadoras, mas que age como chefe mesmo, organizando sua equipe, cobrando e dividindo o trabalho entre os integrantes dos setores de modo que os resultados sejam parecidos com um "Frankenstein", como é feito hoje?
Se os conhecimentos mais valorizados nos empregos fossem prioritariamente os técnicos e os especializados, adquiridos nas escolas, e se o acervo cultural das pessoas não fosse sequer averiguado, como hoje acontece?
E os cursos universitários? Seriam os mesmos de hoje, com pequenas variações, mas com funcionamentos tradicionais e direcionados a um mercado já estabelecido e estável.
E a tecnologia? Claro que esperamos que ela avance ainda mais, mas os aparelhos continuariam os mesmos, a maneiras de utilizá-los também, com uma pequena novidade a cada novo modelo. Exatamente como acontece, em geral, hoje.
Ah! E o uso da criatividade em qualquer função profissional? Seria como hoje, ou seja, um discurso interessante e estimulante que, na prática, cede espaço ao tradicional e ao conhecido.
Se o mundo, daqui a uns 10 anos, fosse exatamente assim, aí faria sentido todo nosso esforço para que a escola brasileira continuasse funcionando da mesma maneira.
Faria sentido, por exemplo, que os pais que têm recursos suficientes investissem tudo o que podem --e às vezes até o que não podem-- para colocar o filho em uma escola considerada forte a fim de assegurar ao jovem uma boa colocação no vestibular concorrido de algumas poucas faculdades que oferecem cursos super tradicionais.
Se fosse assim, também faria muito sentido que valorizássemos tanto, no aprendizado escolar, a medição dos acertos que cada aluno é capaz de fazer nas provas. Da mesma maneira, também faria sentido valorizarmos o espírito competitivo com os outros que esse esquema de avaliação produz e entendermos que bom aluno é o que tira boas notas, independentemente do esforço que teve para tanto.
Se fosse assim, também faria sentido considerarmos irrelevante o fato de as escolas não valorizarem a brincadeira e o contato com a natureza na Educação Infantil, a prática para o aprendizado no ensino fundamental e a arte e a filosofia em todos os níveis de ensino.
Isso sem falar que também faria o maior sentido pouco nos importarmos, como agora, com o projeto de educação para a cidadania e a convivência respeitosa nas escolas.
Faria muito sentido também o fato de considerarmos de pouca importância o diálogo entre as escolas e as famílias dos alunos. Aqui, é bom lembrar que diálogo não significa, necessariamente, parceria.
Mas, pelo jeito, não será assim. Resta aos pais e à escola, portanto, torcerem para que o mundo permaneça igualzinho ao que é hoje.
Folha, 08.04.2014